Ataque com foguetes desde a Síria contra Israel. Resposta às decisões de Trump no Oriente Médio?

Publicado: 2018-05-17   Clicks: 3831

     Tradução: Graça Salgueiro   
 O lançamento de vinte foguetes desde o território sírio contra alvos civis em Israel, não só revive o sempiterno caos geo-político do convulso Oriente Médio, senão que deixa o aroma de uma primeira e rápida retaliação da teocracia iraniana, como conseqüência da decisão do presidente Trump de retirar os Estados Unidos do pacto de desnuclearização do Irã.
     Tal dedução tem justificativa geo-política, estratégica e de pressão psicológica russo-iraniana aos Estados Unidos para que retire todas as sanções contra Teerã, e deixe a Rússia fazer o que dê na telha de Vladimir Putin no Oriente Médio e no histórico desejo do Kremlin de ter controle militar efetivo sobre o Mediterrâneo com extensão direta à Europa Ocidental
     Se examinam-se os fatos com base na história, as ambições geo-políticas sobre a rica região e a disputa religiosa que sacode shiitas contra sunitas, sunitas contra shiitas, sunitas e shiitas contra kurdos, muçulmanos contra judeus, etc., haveria muitas razões lógicas para inferir que o ataque com foguetes contra solo israelense, faz parte sim da esperada resposta de Teerã contra Washington.
     Israel é o principal aliado político, econômico, histórico e cultural dos Estados Unidos no Oriente Médio. Para muitos analistas é seu filho preferido. Embora durante várias décadas a Casa Branca tenha tentado mediar no complexo conflito israelo-palestino, os avanços da paz foram poucos e em vez de melhorar, a situação tornou-se mais tensa com o anúncio de Donald Trump de transferir a embaixada norte-americana à cidade de Jerusalém, reclamada como capital política por ambas as partes em litígio.
     Depois da guerra de 1967, em uso de sua legítima defesa e com a visão geo-política e geo-estratégica de manter afastados os apetitosos inimigos árabes, as Forças de Defesa de Israel utilizaram assombrosas manobras estratégicas aero-terrestres que lhes permitiram capturar e ocupar militarmente vários territórios, entre eles os Altos do Golan na Síria, um ponto crítico de importância definitiva para controlar a fronteira binacional, evitar qualquer agressão terrestre das forças sírias, ou a partir dos primeiros anos da década de 1980, a presença de terroristas do Hizbolah.
     Em conseqüência, desde 1967 Israel ocupa os Altos do Golan e não há evidências de que vá desocupar esta posição estratégica, principalmente por que desde 2011 a Síria concentrou-se em uma sangrenta guerra civil, poucos anos depois atiçada pela Rússia e Irã, o qual deu pé para que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tenha insistido ante múltiplos cenários que conservar a posse dos Altos do Golan e não aceitar o Estado palestino independente é uma necessidade de segurança nacional para seu país, pois está demonstrado que no Oriente Médio toda zona que se independentiza ou pretende se libertar, acaba no poder dos jihadistas que são inimigos irreconciliáveis dos judeus.
     Por sua parte, graças à Rússia a ditadura sanguinária de Bashar Al-Assad assassinou sem misericórdia a seus oponentes, sejam jihadistas ou não, com a argúcia de que todos são terroristas. Nesse cenário a presença dos Estados Unidos na Síria apoiando o Exército Livre e os kurdos, somada aos dos bombardeios estratégicos contra uma base aérea e depois contra umas presumíveis instalações químicas, foram demonstrações de força que obviamente incomodam ao Irã e à Rússia.
 
     O fato de que a primeira visita de Donald Trump ao Oriente Médio tenha incluído a multi-milionária venda de armas à Arábia Saudita, rival sunita irreconciliável com o Irã Sunita, e que agora os Estados Unidos tenham se retirado do pacto nuclear com o Irã, ao mesmo tempo em que Israel confessou haver subtraído de maneira subreptícia milhares de documentos do projeto nuclear que estavam a bom cuidado em Teerã, e que além disso seu governo celebra a decisão de Trump, agrega ao ambiente outros argumentos para a obvia retaliação iraniana.
 
     A tudo o que foi dito acima soma-se a latente situação de guerra preventiva na região da atual crise, porque os ataques de lado a lado das fronteiras síria e israelense foram reiterados desde há vários anos, que a guarda Qud iraniana está presente na Síria e que a milícia do Hizbolah atacou Israel desde a Síria e o Líbano.
 
      Sem dúvida, este fato é a ponta do iceberg, de uma realidade que o mundo quer desconhecer e que por regra geral, meios de comunicação e analistas circunscrevem a volatilidades temperamentais de Putin, Trump e Netanyahu. Talvez esse argumento tenha algo de certo, porém o que é realmente complicado é tudo o que está em jogo para a paz do planeta na zona em que o geógrafo McKinder catalogou como “o coração geo-político do planeta”, devido ao inegável efeito dominó que uma imprudência de qualquer das potências pudesse desatar na zona.
 
      Em reiteradas ocasiões insistimos desde esta coluna que por muito menos se desataram as duas mais sangrentas guerras de toda a história da humanidade. A realidade é que o Irã, instigado pela Rússia, disparou os foguetes contra Israel hoje. Como e quê tão forte seja a presumível reação de Israel e a quantos governos locais e mundiais implique, é a incógnita. E quanto aproveitem os jihadistas e os palestinos esta conspiração, é outro assunto que está por se ver e dependerá das ações subseqüentes e a habilidade da ONU para acertar, antes que as coisas piorem.
 
 
     * Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
     * Presidente do Centro de Geo-política Colômbia
     - www.luisvillamarin.com 
 
 
 
 

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