Tradução: Graça Salgueiro
O recente e desafiante movimento de tropas venezuelanas para a fronteira com a Colômbia, para responder às denúncias que o governo Duque promoveu ante instâncias internacionais como conseqüência da grave crise humanitária que a Venezuela padece devido ao desgoverno castro-chavista, não pode continuar sendo visto como uma exagerada patriotada venezuelana, nem como o muito certo estratagema de sucessivos governos desse país para dissimular sua crise interna, senão como uma realidade geo-política derivada de forças em pugna nos cenários da geo-política regional e mundial.
Antes da ascensão de Chávez ao poder, outros governos venezuelanos corruptos utilizaram o poder financeiro do petróleo para dotar suas forças militares com armas de combate regular dissuasivas e ameaçadoras contra a Colômbia, porém sua intenção era mais politiqueira do que real, sem que isto significasse que o problema não era sério, pois historicamente desde a época de Páez os governos venezuelanos, sem importar a linha ideológica na qual militem, utilizaram para a sua conveniência o anti-colombianismo.
O problema complicou-se porque depois da ascensão de Chávez em 1999, o Plano Guaicapuro de hipótese de guerra contra a Colômbia deixou de ser um jogo de guerra, e passou a se converter em um projeto sério e fundamental para o socialismo do século XXI, para os interesse totalitários e terroristas da ditadura cubana contra o resto do continente mas, por extensão, um proveito de alto valor para os interesses geo-políticos e geo-estratégicos da China, Rússia e Irã, no quintal dos Estados Unidos.
Desafortunadamente, a chancelaria colombiana dirigida com pobreza geo-política estrutural desde o nascimento da República até nossos dias, não intuiu nunca os alcances das agressões exteriores contra o país, cujas conseqüências são graves para a integridade territorial, materializadas na perda de mais de um milhão de quilômetros quadrados do território e mais de 300.000 quilômetros quadrados de mar territorial, além da paupérrima ação estatal nas fronteiras, a inexistência de políticas de Estado no Hinterland e a escassa coordenação com o Ministério da Defesa para posicionar a Colômbia como a potência que deveria e merece ser, por sua privilegiada posição geográfica.
Obviamente a ausência de políticas integradas de Relações Exteriores e Defesa, é a conseqüência lógica da falta de estadistas nos sucessivos governos colombianos e a crônica miopia geo-política da direção política do país, acerca da intromissão no entorno regional e mundial, assim como a ausência de concepção prospectiva ao redor do que vislumbram os que podem afetar potencialmente a Colômbia.
Produto dessa ausência de liderança estratégica em temas de defesa nacional e geo-política, a dotação, trenamento e alistamento das Forças Militares para garantir a segurança nacional ante uma cada vez mais real possibilidade de uma agressão venezuelana contra a Colômbia, foi maltratada por quem vê as tropas como um mal necessário, ou pelos comunistas que desejam ver o país somado ao redil da ditadura cubana, ou por abundantes estultos que opinam sobre o que não sabem ou se auto-denominam estrategistas de segurança ou pacifistas, sem ver além de seu redor imediato nem compreender que o problema não é somente fortalecer as tropas colombianas, senão a necessidade de evitar uma agressão nascente que afetaria enormemente o destino do país.
Dadas as considerações anteriores, a Colômbia necessita atualizar nas academias militares a doutrina de defesa nacional e guerra regular, organizar verdadeiras forças de cobertura nas fronteiras, dotar com equipes de tecnologia estruturada para neutralizar a capacidade estratégica-operativa das modernas armas em poder das forças venezuelanas, ativar o treinamento de forças especiais terrestres para golpear objetivos de alto valor na retaguarda estratégica adversária, fortalecer a inteligência estratégica, consolidar um serviço de mobilização nacional ágil e dinâmico e ao mesmo tempo desatar uma campanha estratégica de ordem diplomática integral no entorno internacional, para advertir em todos os cenários possível do mundo, a gravidade das potenciais e atuais agressões venezuelanas.
Não é guerreirismo de per si. É a resposta mínima que a Colômbia deve dar frente a um projeto estratégico militar venezuelano, atado a um ambicioso projeto geo-político regional cubano que, por necessidade de subsistência e afinidade de objetivos totalitários, coincide com os planos geo-políticos mundiais de inimigos declarados dos Estados Unidos em Pequim, Moscou e Teerã.
A outra realidade que se depreende deste cenário geo-político da “nova ordem mundial”, é que tão logo caia Maduro e a Venezuela entre em uma urgente recomposição social interna, nem China, nem Rússia nem Teerã deixarão de procurar espaços para afetar os Estados Unidos desde esta parte do continente. De remate, dirigentes políticos venezuelanos vindouros tampouco deixarão de utilizar o anti-colombianismo como uma intromissão para dissimular seus problemas internos. E, em ambos os casos, hoje como ontem, a Colômbia é a desejada jóia da coroa no hemisfério para os apetites de comunistas e totalitários.
Do mesmo modo, enquanto haja grupos terroristas na Colômbia, esteja quem esteja no governo venezuelano, como tem sido a constante desde a década de 1980, os cabeças destes grupos delitivos colombianos encontrarão setores governamentais que por diferentes razões cobiçam, com a circunstância agravante de que o narcotráfico foi e parece que continuará sendo durante vários anos mais, o combustível para a violência multiforme na Colômbia. Tudo isso favorece interesses geo-políticos egoístas de dirigentes venezuelanos que nunca viram a solução nem a integração regional, senão nas ilhas autocráticas com sentimentos anti-colombianos.
* Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Presidente do Centro de Geo-política Colombiana -
O coronel Luis Alberto Villamarín Pulido é autor de 35 livros e mais de 1.600 artigos relacionados com temas de sua especialidade. Suas obras foram traduzidas em vários idiomas e são referências bibliográficas para estudos de segurança nacional, contraterrorismo e geo-política em diversos centros de estudos políticos do mundo.