Análise estratégica do ataque das FARC em Majayura-Guajira

Publicado: 2012-05-23   Clicks: 1746

 

     Com bastante razão Napoleão Bonaparte afirmou que a guerra é uma arte simples e sobretudo de execução. Vários anos depois, o marechal Von Clausewitz acrescentou que a guerra é a continuação da política por outros meios. Uma e outra afirmação são confirmadas pelo recente ataque das FARC contra a base fronteiriça de Majayura-Guajira, onde perderam a vida 12 soldados e outros tantos ficaram feridos.
 
    O assunto medular é que nem o governo nacional, nem os meios de comunicação, nem ao que parece o Grupo de Cavalaria afetado interpretaram os alcances e intenções ou objetivos táticos do Plano Estratégico das FARC.
 
     Basta sintonizar as atividades simultâneas ou sucessivas das FARC nos últimos dias no território colombiano, para compreender que ante a atitude ambígua e publicista do governo Santos, atacada com veemência pelo ex-presidente Uribe, as FARC pescaram em rio revolto e suas atuações giram em torno do Plano Estratégico.
 
    Esta realidade implica dizer que todas as tropas deslocadas ao longo e largo do território nacional, devem estar em alerta e prontidão tático-operacional para evitar a surpresa, a concentração de massa inimiga e os ataques arrasadores com conotações político-estratégicas.
 
    É questão de senso comum e de comungar com o lema “Fé na causa”, bandeira da indiscutível liderança militar do general Alejandro Navas. Porém, não é demais repassar os fatos para articular o assunto dentro de um marco estratégico. Primeiro, as FARC libertaram 10 dos militares e policiais seqüestrados com o propósito calculado de apresentar uma versão legitimada do Movimento Bolivariano Clandestino.
 
     Depois, seqüestraram o jornalista francês, perpetraram vários atos terroristas no Cauca e tentaram assassinar em Bogotá o ex-ministro Londoño, enquanto seus cabeças e curingas urdiram como porta-vozes da paz ao estilo fariano, quer dizer, da continuação dos tradicionais enganos. 
 
    À toda esta atividade armada intimidatória, somou-se a comprovação da existência de redes clandestinas das FARC nas universidade públicas, o Ministério Público desatou uma tormenta midiática com os assinalamentos contra o ex-deputado valluno [1] Sigifredo López, e o presidente Santos obstinado na reeleição, utilizou seu escudeiro Roy Barreras para defender o indefensável do experimental embuste do “Marco Legal para a Paz”, sem que este projeto de lei corresponda ao encaixe dentro de uma estratégia integral do Estado, para opor-se ao Plano Estratégico das FARC.
 
    Entretanto, em círculos sociais murmura-se que, ao que parece, as tropas estão desmoralizadas, que não há motivação para combater devido à falta de garantias jurídicas, etc. E a isto se acrescenta a atitude ambígua de Santos que um dia diz estar empenhado em “dar chumbo” nos bandidos, mas no outro dia ou no minuto seguinte exalta Chávez como amigo da Colômbia, quando é sabido que ninguém acredita nele e que os militares não entendem porquê, para conseguir a reeleição presidencial, Santos utiliza o sacrifício deles, assim como usufruiu de seu cargo para projetar ambições pessoais quando foi ministro da Defesa.
 
    Com muita clareza o general Sergio Mantilla denunciou que os terroristas que atacaram a base de Majayura, entraram a saíram pela Venezuela. Não obstante, Santos disse que Chávez ordenou mover duas brigadas para persegui-los, embora na prática ele e todos os colombianos sabemos que a ordem de Chávez às suas tropas é a contrária: protejam os camaradas das FARC, para o caso das tropas colombianas passarem a fronteira para persegui-los imediatamente.
 
    O mais leigo em tática ou estratégia militar sabe que é assim. Se Chávez fosse leal com a Colômbia e inimigo das FARC, Timochenko e Márquez não teriam gabinete no Fuerte Tiuna em Caracas, e além disso ele já teria extraditado Julián Conrado e o marquetaliano [2] Fernando. Mas não acontecerá nada, porque esse par de delinqüentes não estavam incluídos no acordo para intercambiar Makled por um terrorista das FARC.
 
    Não estranharia que ao esclarecer o ocorrido, ficará provado que os terroristas que atacaram Majayura foram recebidos e alojados na base militar venezuelana localizada em frente da colombiana, que inclusive teriam guardado lá os cilindros para atacar e o que é mais grave: que unidades venezuelanas os tenham apoiado durante o ataque e que depois lhes tenham facilitado veículos para a batida em retirada. Com o passar do tempo se saberá a verdade.
 
    Nessa ordem de idéias, o fracasso militar de Majayura sela um marco e um ponto de inflexão para o presidente Santos. Ou ele muda sua atitude ambígua e demonstra clareza ante as tropas que o sustentam no cargo, ou vai levar o país à vergonhosa época de Gaviria, Samper e Pastrana quando as FARC impunham a iniciativa política e realizavam sincronizadas ofensivas estratégicas e táticas, produto da falta de caráter e de clareza estratégica de tais mandatários.
 
    E para as Forças Militares é uma forte sacudidela. Não basta as geniais e paradigmáticas operações aero-terrestres, idealizadas e comandadas pelo general Alejandro Navas. É necessário que os comandantes de Divisão, Brigada, batalhão e companhia sincronizem-se com o pensamento, capacidades e liderança de Navas, para desenvolver uma estratégia integral de guerra contra o terrorismo.
 
    É decisivo que a inteligência militar, em todos os níveis, sacuda a poeira da inércia e tire do panorama a miopia frente à intenção estratégica das FARC. A doutrina e a experiência militar universal ensinam que as bases fixas são manjar dos deuses em qualquer guerra, então a inteligência militar e a contra-inteligência se convertem nos olhos do comandante para proteger estas unidades.
 
    Que, além disso, a melhor maneira de fortalecer a defesa de área é mediante patrulhagens ofensivas, reconhecimentos permanentes do terreno, estruturação de um plano coordenado de barreiras, revisão permanente das demarcações das armas de acompanhamento, preparação de posições principais, alternativas e suplementares, ensaio permanente do plano de reação e contra-ataque, segurança física e técnica das comunicações, medidas de engano, simulações, etc.
 
    Porém, o ocorrido indica que do mesmo modo que em Las Delicias, Patascoy, El Billar, etc., em Majayura supriu-se a imperícia tática com arrojo e coragem. Talvez seja oportuno lembrar a todas as tropas a agressiva frase do general Patton: “Nenhum filho da ... ganhou a guerra morrendo por sua causa. Ganhou-a fazendo com que outro morresse pela dele!”.
 
    Este fracasso deve ser o fervor que cumule a passividade do ministro Pinzón, muito dado a inflar o peito com os êxitos das tropas, e o ponto de partida para que Santos se ponha em seu lugar e esclareça sua posição.
 
    Nem o Congresso da República, nem os colombianos podemos aceitar esse discurso derrotista e justificativo de sua ineficiência, segundo o qual virão mais atentados terroristas porque diz que as FARC estão derrotadas e seus ataques são estertores. Ou o que é mais tragicômico, que Chávez tornou-se boa pessoa e vai “dar chumbo” às FARC.
 
    Por sua parte, o alto comando militar deve tomar decisões audazes e imediatas, ordenar que os Estados-Maiores de Brigadas e Divisões dediquem mais tempo à condução da guerra contra o Plano Estratégico das FARC e menos atividade em papéis de rotina, que com facilidade podem ser tramitados por seus subalternos.
 
    Está na hora de que o governo nacional, os ministros, os congressistas, os funcionários públicos, os comandantes das tropas em todos os níveis e a Colômbia em geral, aterrissemos e compreendamos, por fim, que as FARC estão em guerra contra a institucionalidade, que o apoio de Chávez à guerrilha é uma realidade e que a única coisa que não tem justificativa na guerra é perdê-la.
 
Notas da tradutora:
 
[1] Natural do Valle del Cauca.

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