Quarenta anos depois da morte dos irmãos Vásquez Castaño do ELN em Anorí

Publicado: 2013-10-27   Clicks: 1703

     Tradução: Graça Salgueiro

     condor en_el_aireVárias décadas depois de sucedidos os fatos, o general Hurtado Vallejo resumiu os fatos assim, em entrevista para a redação final do livro Condor en el aire

    - Em um dos contatos permanentes que tivemos com a população civil de Anorí, perguntei ao padre do município se era possível falar com algum camponês que conhecesse toda a região e que estivesse em condições de seguir pegadas ou rastros de seres humanos sem perder a trilha. Apresentaram-me a um experiente caçador apelidado de “coelho”.

     Selecionei dois soldados por companhia e coordenei com o “coelho” para que os treinasse durante 15 dias como rastreadores. Como resultado deste adestramento, durante as seguintes perseguições às frentes do ELN em Anorí, nunca perderam o rastro. Prova disso é que cada dia que passava o ELN tinha menos guerrilheiros em Anorí, mas ao contrário do que se pudesse pensar, no sentido de que menos gente é mais difícil rastreá-la, as tropas patrulhavam sem perder o contato, porque os ponteiros das patrulhas estavam treinados e mentalizados para seguir os rastros.

     Assim chegamos ao momento crucial em que não restaram vivos senão três guerrilheiros plenamente reconhecidos: Lucía González e os irmãos Antonio e Manuel Vásquez Castaño.

    Tinha instalado meu posto de comando na fazenda Astilleros sobre a parte alta de uma colina com inclinação bem pronunciada, desde a qual divisava à distância a quebrada El Barcino em um buraco profundo. De repente recebi uma comunicação radial: 

    “Garibaldi 6, este é Hiena 2. Encontramos as pegadas de Manuel e Antonio Vásquez. Vão para a quebrada El Barcino. Minha unidade está bem”.

    - A notícia chegou como caída do céu. Por informações confirmadas por Adelfa Fierro, sabíamos que a alpargata de um deles tinha uma cruz que deixava marcas ao caminhar pelo terreno. Não havia tempo a perder. Localizei a informação na carta e procedi a estreitar o fechamento tático. Embarquei a companhia Hiena do batalhão Pichincha em helicóptero e desde o ar, indiquei ao comandante dessa unidade onde colocar as posições de fechamento e bloqueio. Depois o desembarquei.

     O cabo-segundo Hernán Marín Muñoz descreveu com simplicidade o que aconteceu em seguida: 

    - Quatro horas depois de ter instalado uma emboscada em cumprimento do Plano Caçador, o soldado Ovidio Orjuela se aproximou até meu posto e manifestou em voz baixa: “Meu cabo, vi se mover um ramo. Alguém se aproxima. Deve ser a guerrilha porque um camponês não caminharia com tanto sigilo por entre o monte”.

     - Cresceram o ruído e os movimentos dos ramos. Localizei o primeiro bandoleiro e disparei minha carabina três vezes, porém o sujeito escapuliu com agilidade, se entrincheirou por trás de uma árvore e presa do desespero, começou a gritar: “Somos muitos. Não combatam contra nós porque podemos acabar com vocês”.

    - Eu sabia que isso não era certo, mas que se tratava de uma treta de ação psicológica do bandido. Dispus a manobra tática da esquadra. Três soldados reagiram pela esquerda. Dois ficaram de contenção na frente e outros dois desceram comigo pelo flanco direito, com a finalidade de que os bandoleiros escapassem.

     Os soldados Gonzalo López Diógenes, José Lagos Rosero e Mauro Andrade que pareciam cães de caça atrás da presa, deram baixa em Jerónimo e Lucía. De passagem recuperaram uma carabina e um fuzil. Emiliano, o outro bandoleiro, conseguiu fugir porque perdemos um tempo precioso para a perseguição enquanto identificávamos os cadáveres, organizávamos o material apreendido e informávamos os resultado ao CO-10.

     Porém, a sorte estava lançada porque mais adiante outra esquadra da companhia Hiena deu baixa em Emiliano, tal como relatou o comandante dessa unidade fundamental: 

    - Minutos antes ouviram-se disparos de fuzil G-3 e carabina M-1 sobre o setor da tropa que tampava a saída para o rio Porce, indício de que o grupo que estávamos procurando havia sido localizado. O terreno é quebrado, montanhoso e de bosques. Na parte inferior há musgo, samambaias e cipós que dificultam a mobilidade a pé.

    Desde o lugar onde o helicóptero nos deixou, ordenei um registro para a quebrada El Barcino, porque presumi que os últimos bandidos do grupo podiam escapar para lá. Quando a patrulha registrava a área na extensão da frente, ouviram-se vários disparos de carabina, feitos para tratar de despistar os soldados acerca da localização de quem os efetuou.

    Minutos mais tarde vimos um indivíduo que subia com agilidade pela encosta, mas que deixava ver um plástico azul que levava em sua mochila. Iniciamos a aproximação dele. Por instinto de conservação o bandido ficou quieto dentro de umas samambaias para ver se passávamos direto e ele poderia escapar. Não obstante, o rodeamos. Ao se dar conta de que estava sem saída, o bandido disparou sua arma contra os soldados, os quais reagiram e lhe deram baixa. Ao verificar seu documento de identidade, estabelecemos que se tratava de Antonio Vásquez Castaño, cognome “Emiliano”.

     - “Dignos de destacar a fidelidade, a coragem e a lealdade de Lucía, suposta amante de Manuel Vásquez Castaño”, assevera o general Hurtado Vallejo e acrescenta: “Que têmpera, constância e fervor pelos ideais comunistas demonstrou essa mulher. Morreu em sua lei ao lado do cabeça. Vestida com roupas masculinas, à simples visão aparentava ser um homem. Somente quando a despojaram da roupa para a necrópsia confirmamos que era Lucía”.

     - Ela não se dobrou pelo cansaço, nem pela pressão psicológica da perseguição, nem pelos contínuos combates. Na realidade, Manuel Vásquez Castaño era homossexual, defeito que dissimulava ante os demais comparsas com o aparente amancebamento com Lucía.

    - “Ao revisar os cadáveres e as armas - acrescenta o comandante da companhia Lince - nos demos conta de que quem combateu foi Lucía, porque a arma que Manuel Vásquez tinha estava entupida de barro e nem sequer cheirava a pólvora. Que mal combatente esse sujeito era!”.

    - Naquele dia - conclui o general Hurtado Vallejo - compreendi como esteve constituído o interior do ELN dessa época. Uns eram ideólogos que preferiam morrer fiéis à causa, e os outros eram camponeses que não tinham outra alternativa. Se escapavam da guerrilha poderiam ser seqüestrados por eles mesmos e fuzilados sem misericórdia, sob a acusação de haver traído a causa revolucionária. Porém, foi tão forte a desmoralização que em cada combate decisivo algum desertou.

     Para ler a história completa da “Operación Anorí”, contra o ELN em 1973, faça clic aqui

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

Analista de assuntos estratégicos – 

www.luisvillamarin.com

 

 

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