As conversações de paz em Havana à luz dos princípios da guerra

Publicado: 2014-02-13   Clicks: 1852

     Tradução: Graça Salgueiro

     Levando em conta que as FARC consideram a mesa de negociações em Havana não como um meio para concretizar a paz, senão como um trampolim para continuar a guerra contra a Colômbia, ao mesmo tempo em que o governo colombiano concebe a prolongada e improdutiva série de “conversas” em Cuba como o suporte re-eleitoral de Juan Manuel Santos, a situação requer analisar o que acontece atualmente entre as FARC e o “estabelecimento”, à luz dos princípios da guerra contemplados pela doutrina de defesa nacional colombiana. Assim, temos:

     1. Objetivo: Dirigir todas as operações para um objetivo definido, decisivo e real. O propósito final da guerra é derrotar a estratégia do adversário e neutralizar sua vontade de combate.

     Na prática, as FARC chegaram a Havana com um objetivo concreto em andamento: conseguir legitimação política sem o rótulo de terroristas e narco-traficantes. De passagem, aproveitaram todo tipo de estratagemas para repotencializar a capacidade bélica de suas quadrilhas e promover a desarticulação das Forças Militares, mediante a guerra de massas, guerra psicológica, guerra jurídica e manipulação das conversações. Isto, sabidamente, que as Forças Militares são o único ativo, físico negociável que o governo tem, porque documentos com extensos acordos quase nunca cumpridos, podem-se assinar muitos, do mesmo modo que em outras guerras internas sucedidas no país.

     2. Ofensiva: Capturar, reter e explorar a iniciativa. A ação ofensiva é o modo mais efetivo e decisivo para obter um objetivo comum e definido.

     É evidente que a iniciativa das conversações sempre foi manipulada e imposta pelas FARC. Os terroristas dirigiram os tempos, a agenda, os sub-temas, a publicidade, a presença midiática, as falsas tréguas, o terrorismo das milícias bolivarianas, efetuaram os Plenos ampliados de cabeças em Havana, continuam traficando coca, põem o governo para falar a favor deles, geram fissuras entre os dirigentes políticos e enrolam os colombianos desprevenidos que, mal informados pelos idiotas úteis do terrorismo, acreditam que desta vez sim, haverá paz, em que pese os ambíguos comunicados e discursos dos cabeças farianos em Havana.

     Por sua parte, o governo encabeçado por um presidente “televisivo”, um ministro da Defesa neófito e representado por um cacique samperista em Havana, vai na retaguarda, à deriva e atua sob as imposições das FARC. Nenhuma das três instâncias enunciadas conhece com profundidade o Plano Estratégico das FARC, nem muito menos o conchavo internacional da ALBA e do Foro de São Paulo ao redor da “paz na Colômbia” que para eles equivale a que a Colômbia entre no curral castro-chavista, inclusive aceitar a espúria sentença da CIJ a favor da Nicarágua, cujo governo é cúmplice descarado das FARC.

     3. Massa: Emprego de um poder de combate devastador no momento e lugar decisivos. Sincronizar todos os elementos do poder de combate onde tenham um efeito decisivo sobre uma força inimiga, em um curto período de tempo.

     As FARC atacam em massa por meio das organizações de fachada, dos partidos comunistas do continente, dos cúmplices nacionais e internacionais e dos estúpidos pacifistas, por exemplo, os senadores Roy Barreras e Benedetti que, alheios em grau máximo a conceitos elementares de patriotismo, servem de caixa de Pandora aos estratagemas pacifistas das FARC.

     O governo vai à mesa de Havana com uns delegados nomeados a dedo, sem plano estratégico e sem clareza de ganhar esta batalha midiática e estratégica das FARC. Não há conceito de ataque integral contra o terrorismo por parte do Estado. O Ministério Público e muitos magistrados das altas cortes, estão mais interessados em derrubar o Procurador, responsabilizar o Exército pela barbárie narco-comunista perpetrada pelo M-19 no Palácio da Justiça, e esquivar-se de qualquer investigação contra os terroristas de colarinho branco, relacionados nos computadores de Raúl Reyes, Jojoy, Cano, Iván Ríos, etc.

     4. Economia de Forças: Distribuição e uso sensato das forças próprias sem esquecer os objetivos decisivos, assim nenhuma unidade deve ficar sem propósito.

     As FARC se esquivaram do combate frontal. Alta porcentagem de suas ações terroristas são perpetradas pelas milícias bolivarianas. As comissões de masseiros [1] continuam recrutando e treinando camponeses para a guerra, e as Frentes em geral estão em re-acomodação tático-operacional. 

     O governo Santos desgasta as tropas em atividades para seu benefício particular. Até disfarçou o filho de soldado. Não há liderança interna, porque o ministro Pinzón e seus antecessores civis no cargo desconhecem as tropas, o inimigo, sua estratégia e os objetivos finais. Finalmente, Santos inventou o argumento de que as FARC se sentaram para conversar em Havana porque ele, como grande auto-estrategista, as derrotou, sem se dar conta de que os terroristas chegaram a Cuba para ganhar reconhecimento e vantagens políticas, para continuar sua “guerra comunista pela paz”.

     5. Manobra: Colocar o inimigo em uma posição de desvantagem mediante a aplicação flexível do poder de combate.

     As FARC têm reiterado sua manobra estratégica desde 1982 com o tema da paz, mas não há estudos sérios nem negociadores que conheçam estas argúcias. A agenda de Havana caracterizou-se por imposições unilaterais das FARC, enganos aos silenciosos negociadores e refinamento do Plano Estratégico fariano, sem que o governo saia do esquema de “buscar a paz depois de tantas décadas de violência, porque esse é um direito do povo colombiano”.

     6. Unidade de Comando: Para cada objetivo deve-se buscar a unidade de comando e a unidade no esforço.

     Os negociadores das FARC em Havana atuam em conseqüência com seus planos estratégicos, seus objetivos a longo prazo e seus documentos programáticos. O governo Santos atua por egocentrismo, sem objetivos claros e sem estratégia que possa se opor às audácias dos terroristas. A obsessão pela re-eleição nubla o espaço de manobra, cria divergências entre os direções político-partidárias, o Congresso da República é convidado de pedra, e as altas cortes estão imersas em defender suas prebendas pessoais, evitar as investigações contra os terroristas de colarinho branco e “deixar fazer e deixar passar”.

     7. Segurança: Não deve-se permitir nunca que o inimigo adquira uma vantagem inesperada.

     As FARC contam com a cumplicidade da ditadura cubana que protege seus negociadores e monitora com avançados mecanismos de inteligência técnica tudo o que os negociadores do governo de Havana falam ou discutem, enquanto que seus cúmplices na Colômbia fazem o resto do trabalho de espionagem.

     8. Surpresa: Golpeia o inimigo em um momento, lugar ou de uma maneira para a qual não esteja preparado. A surpresa pode mudar decisivamente o equilíbrio do poder de combate.

     Cada vez que querem, os negociadores das FARC mudam as condições, impõem pontos de vista e com a cumplicidade dos comunistas e idiotas úteis promovem foros, encontros e atividades publicitárias, enquanto que o governo nacional desperdiça bilhões de pesos em auto-propaganda nos meios de comunicação, de supostos ganhos sócio-econômicos em favor do “povo”, com o qual, para um leigo no tema, pareceria que o nível de vida na Colômbia está acima da Suécia e Finlândia juntas.

     9. Simplicidade: Deve-se preparar planos claros e não complicados com ordens concisas para assegurar uma compreensão completa.

      As FARC chegaram à mesa de Havana com a mesma temática e muita repetição de procedimentos aplicados em La Uribe, Cravo Norte, Caracas, Tlaxcala e El Caguán. Que não entregam as armas, que requerem zonas liberadas, que não são narcos, etc. E o governo Santos, enredado nas teses de sabichões escolhidos a dedo sob a direção de um cacique político samperista, sem que se negocie com clareza pontual o que a Colômbia quer a respeito: desmobilização dos terroristas, entrega das armas, entrega das rotas de coca, plena identificação de todos os cúmplices do terrorismo e submissão à Justiça.

     Em conclusão, as FARC vêem as conversações de paz em Havana como um meio para continuar o narco-terrorismo comunista contra a Colômbia, pois seu propósito não era combater cinco décadas contra a institucionalidade para se render, enquanto que para o governo de turno, o tema da paz foi um argumento a mais para fazer politicagem, mascarar a crua realidade da inaptidão administrativa, a corrupção e o credo da elite divina privilegiada com o poder central hereditário.

      E o resto do país na metade do embroglio, submetido às arbitrariedades e corrupções das espirais politiqueiras que rodeiam a elite com lampejos de divindade e, por outro lado, inermes ante o sangrento conflito armado que os dinossauros comunistas impulsionam, que continuam convencidos de que o terrorismo contra os colombianos é uma guerra justa e, o que é pior, que o sonhado comunismo de independência anti-ianque levará a Colômbia a ser um “paraíso de bondades”como Cuba e Venezuela.

      Assim mal governados estamos os colombianos. E o presidente quer se re-eleger... Sem palavras.

     Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

       Analista de assuntos estratégicos

www.luisvillamarin.com

      Nota da tradutora:

         [1] “Masseiros” são os milicianos das FARC encarregados de lidar com a massa, fazendo recrutamentos de possíveis novos guerrilheiros.

 

 

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