Forças Militares e negociação de paz com as FARC em Cuba

Publicado: 2014-07-03   Clicks: 2064

      Tradução: Graça Salgueiro

    Desde antes de começar as conversações de paz da administração Santos com as FARC em Havana, foi reiterativo e recorrente o tema do futuro a médio e longo prazo das Forças Militares. Em diversos cenários o presidente disse que os soldados não têm de que se preocupar, porque seu futuro não está incluído na agenda, enquanto que os terroristas insistem em que é necessário reavaliar as Forças Militares, mudar a doutrina de segurança nacional, reduzi-las à mais mínima expressão, entregar amplas zonas do território colombiano aos cúmplices das FARC, não entregar as armas e para rematar, fazê-las parte das novas forças bolivarianas de defesa, enquadradas na óptica castro-chavista da América Latina.

     Frente a tão complexos cenários, os comandos militares de turno foram parcos, com a mesma atitude do general Mora Rangel na mesa de negociações. Nem somam nem subtraem. Esta situação criou incerteza e pouca credibilidade, tanto das tropas ativas quanto das reservas que sabem com certeza que em acordos similares de paz em outros países, os documentos finais foram se enchendo de conteúdos às vezes utópicos, mas a única coisa certa e realizável foi o desvertebramento estrutural das unidades militares, para satisfazer as ambições dos comunistas armados e desarmados

     Ao mesmo tempo com a desmontagem das estruturas militares, as “comissões da verdade” se concentraram em dar gosto aos comunistas e aos pacifistas de todos os matizes. Nessa ordem de idéias, e desde essa óptica sinistra que querem aplicar na Colômbia, as atrocidades da guerra em países como El Salvador e Guatemala foram provocadas e promovidas pelas tropas, pois os terroristas salvadorenhos e guatemaltecos foram quase arcanjos celestiais.

     Para completar, nenhum dos dirigentes políticos desses países foi responsabilizado pelo ocorrido, pois as castas políticas são demasiado hábeis para estimular incêndios e depois transferir a responsabilidade aos outros. Ao ritmo que vão as conversações com as FARC em Havana, tudo aponta para indicar que os delinqüentes de colarinho branco que fizeram tanto dano à Colômbia, e evidentemente verdadeiros causadores da existência das FARC (por ação e por omissão), sairão incólumes e os únicos responsáveis serão os militares e policiais que expuseram suas vidas para defender essa democracia (com minúscula) que manejam os corruptos que se crêem donos do país e credores hereditários da lealdade das tropas.

    Desde esta coluna vimos insistindo há vários anos que os generais e almirantes têm que se antecipar para evitar que suceda esta catástrofe anunciada. Nenhum alto comando militar pode ser tão ingênuo nem tão iludido em acreditar que Santos é leal com as tropas, pois essa palavra não existe nem no dicionário nem na conduta da direção política colombiana. Sem exceção. Todos são trânsfugas em seu devido momento e, em honra de salvar seus interesse pessoais e de grupelho, traem uma e mil vezes os soldados que os defendem e lhes garantem ocupar os altos cargos quase sempre imerecidos.

     Basta ver os medíocres funcionários que circularam pelo Ministério da Defesa desde 1991 em diante. Imersos em sua vaidade e argúcias politiqueiras, todos se crêem gestores de estratégias exitosas contra o terrorismo e experts em defesa nacional, tema do qual ignoram até sua própria definição. Porém, nenhum destes personagens assumiu a responsabilidade penal, política e administrativa, pelo crescimento desmesurado dos agentes geradores de violência durante esse lapso, nem pela miopia político-estratégica do Estado e dos governos de turno para solucionar um problema que não é somente militar, senão que requer ações políticas, econômicas, sociais, culturais e jurídicas.

      Nenhum destes auto-elogiados estrategistas de escrivaninha pôs a cara pelas prováveis execuções extra-judiciais, ou os casos de detestáveis vínculos de uniformizados com bandidos das AUC. Muito menos se preocuparam em levar adiante um projeto sólido de justiça penal militar, regime disciplinar militar, bem-estar social de ativos e reservas, etc. Tudo limitou-se à politicagem e à demagogia, arraigadas na Colômbia desde sempre.

      Pelo que foi dito acima e por muitas outras razões, é uma obrigação moral e patriótica do alto comando militar, primeiro instruir o ministro da Defesa sobre estes temas, suprimir-lhe as servis honras militares que lhe fazem em todas as guarnições, pois este personagem transitório não faz parte da linha de comando, e segundo, elaborar projetos consolidados a longo prazo para que o país pense em torno a:

    1. A agressão nicaragüense em conluio com a ALBA e os comunistas da região, se materializou na espúria sentença da Corte de Haya que cerceia da Colômbia 75.000 quilômetros de mar territorial e os dá à Nicarágua. Ante esta realidade, é evidente que China, Rússia e os comunistas da região querem ficar com San Andrés, então, no suposto e improvável caso de uma desmobilização das FARC, as tropas regulares não podem ser reduzidas senão re-treinadas e re-equipadas para prevenir qualquer ação armada desta tendência anti-colombianista. Pensar o contrário com estultícia pacifista é dar patente de corso aos comunistas, principalmente porque as FARC fazem parte deste conchavo.

    2. Não se pode demorar mais para escrever e publicar centenas de documentos com a memória histórica do conflito. Não é possível que sejam os comunistas ou “historiadores” contratados pelo governo quem escrevam a história do conflito, para oficializar a versão das FARC e seu braço político, o Partido Comunista, segundo o qual os terroristas são vítimas, têm origem nas desigualdades sociais e, além disso, representam o povo colombiano “maltratado” pelos militares, pois os dirigentes políticos que mal-governaram o país são alheios a toda culpa.

    3. Os generais e almirantes devem restabelecer o enfoque da instrução militar nas escolas de formação e capacitação. Os novos sub-tenentes e tenentes de corveta devem ser líderes no sentido extenso da palavra, não só quadros de comando para preencher os eternos faltantes das tábuas de Organização e Equipe das Forças Militares. E durante os cursos de ascensão e tecnificação profissional, aprofundar em geo-política, sociologia política, política colombiana, estratégia, defesa nacional, revoluções e processos de paz, história da Colômbia, guerra psicológica e outros temas afins. Para o efeito, devem qualificar a docência militar.

    4. Além disso, os generais e coronéis em serviço ativo ou seus equivalentes em outras forças, devem fazer um exercício de posto de comando para avaliar o sucedido até o momento, e os cenários imediatos frente ao futuro das Forças Militares e o que se conversa em Havana. E, obviamente, com o maior respeito e seriedade, dá-las a conhecer ao presidente e ao país.

    Os generais e almirante não estão nos altos comandos de brigadas, divisões ou das Forças, para satisfazer os caprichos veleidosos e re-eleitoreiros ou auto-publicitários do presidente de turno. Sua função é defender todos os colombianos sem distinção de raça, idades, religiões, credos políticos ou posições sociais. O presidente Santos é mais um cidadão e por sua condição temporal e especial, é o primeiro colombiano obrigado a cumprir a Constituição e defender as Forças Militares. Seu cargo não o faculta para Nobel da Paz, agora que conseguiu sua imerecida e questionada re-eleição.

    Eis aqui o desafio e rol das Forças Militares frente ao que se negocia em Havana com as FARC, e logo se começará a negociar com o ELN.

Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido

 Analista de assuntos estratégicos

 - www.luisvillamarin.com

 

 

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