Tradução: Graça Salgueiro
O complexo momento da situação sócio-política do país, atado às conversações com as FARC em Havana, com um mar de incerteza acerca do futuro das Forças Militares, impõe aos altos comandos das instituições castrenses a revisão dos programas de formação e capacitação dos quadros de comando, pois em essência a atual peleja entre santistas e uribistas, não é nada diferente dos dilacerantes enfrentamentos entre liberais e conservadores que a Colômbia teve em seu sub-desenvolvimento, com enorme miopia geo-política sem objetivos nacionais.
Com a circunstância agravante de que, em todos os casos, os ambiciosos e egocêntricos dirigentes políticos manipularam as Forças Militares para suas conveniências pessoais. Não as do país.
O poeta venezuelano Elías Calixto Pompa escreveu um soneto intitulado Estudia (Estuda), que é um marco para a posteridade da espécie humana, em cuja última estrofe concretiza: “(Menino) Estuda e não serás quando crescido, nem o brinquedo vulgar das paixões, nem o escravo servil dos tiranos”.
Parafraseamos esta estrofe do poeta venezuelano para dizer aos militares colombianos: Cadetes, Alferes, sub-tenentes, tenentes, capitães e majores: “Estuda e não serás um coronel, um general ou um almirante, brinquedo vulgar das paixões políticas ou o escravo servil dos tiranos”.
Talvez este parafraseado soe duro e levante bolhas, mas é a crua realidade. Durante décadas, as Forças Militares da Colômbia dedicaram ingentes esforços acadêmicos para estudar matérias úteis à solução militar do conflito armado, fechar-se em lealdades não correspondidas pelos dirigentes políticos de turno, fechar válvulas de estudo dos problemas políticos do país, evitar qualquer contato dos oficiais e sub-oficiais com o mundo acadêmico crítico, escasso estudo da geo-política e, o que é mais grave, fechar com sete chaves os segredos dos grupos terroristas e seus cúmplices.
Assim, ao chegar a generais, almirantes ou coronéis e seus equivalentes, os oficiais sobre quem recai a responsabilidade de comandar as operações militares contra todas as formas de narco-terrorismo, se aplicaram na solução militar do problema, sem ter a capacidade de pôr os pontos nos is sobre os dirigentes políticos de turno. Não para dar quarteladas, nem para urdir golpes de Estado, senão para pôr em seu posto os incapazes presidentes, ministros, congressistas, etc., que utilizaram as tropas para seus benefícios pessoais e depois traíram-nas deixando-as entregues à própria sorte, emaranhados em um conflito caro, crônico, absurdo e sangrento.
A lista é longa e os exemplos são muitos. Vejamos alguns: os casos do general Arias Cabrales e do coronel Plazas Vega, privados da liberdade e com a honra manchada, enquanto os terroristas do M-19 são eminentes figuras públicas. Centenas de oficiais e sub-oficiais com processos penais, enquanto os cabeças das FARC vão e vêm de Havana, com a anuência cúmplice do próprio presidente da República, a quem não importa a sorte dos soldados que o levaram ao imerecido cargo, porque só lhe interessa ser Prêmio Nobel da Paz.
Tudo indica que as árvores não deixam os altos comandos militares ver o bosque, enfocados em combater os narco-terroristas nas selvas e montanhas, sem capacidade de reflexão acerca da complexidade do conflito e da necessidade das soluções políticas de fundo, não das costumeiras superficialidades politiqueiras que se refletem nas mortes contínuas de soldados humildes, a agressividade farsesca das FARC e ELN e a catarata de imposições unilaterais dos familiarizados negociadores das FARC, sobre os tão arrogantes como incapazes negociadores de diferentes governos desde 1981 até os dias de hoje.
Assim, como há alguns anos um grupo de oficiais e sub-oficiais se concentraram para re-desenhar a estratégia operacional do Exército e estruturaram o Plano Espada de Honra, a atual situação demanda uma revisão a fundo das matérias e sub-temas que os profissionais militares estão estudando nos cursos de formação e capacitação profissional.
A título de exemplo: se o militar é um líder de tropas como deve sê-lo, sua bagagem intelectual sobre a liderança deve ser amplo e visionário, com conhecimentos profundos sobre liderança militar, política, econômica, industrial e histórica. Isso implica que os cadetes e alunos de escolas de sub-oficiais devem estudar um componente de liderança por semestre nas escolas de formação, que devem ser complementados em nível de mestrado e doutorado nos cursos de ascensão.
Do mesmo modo deve ocorrer com a História Militar, História da Colômbia e geo-política, três matérias que se deixam em segundo plano e quase que se estudam de maneira informativa ou complementar. Com certeza que com generais curtidos pela experiência castrense e estruturados na liderança, com profundos conhecimentos de geo-política e história, além de ser referências dentro da instituição, serão pessoas de alta reputação dentro da população civil, e certamente dos dirigentes de turno, nem por equívoco se atreverão a desrespeitá-los e macular as Forças Militares, como fizeram sucessivos presidentes devido a que nem todos os comandos estão unidos e que por azar, nem todos estão estruturados para se opor às suas ações politiqueiras. Dura realidade que talvez pise calos e que poucos se atrevam a pôr em preto e branco.
Em síntese, necessita-se de uma ingente dose de auto-crítica, muita humildade e senso comum para compreender e aceitar a realidade, e decisão forte para mudar o anquilosado esquema das relações civis-militares, dentro das quais os dirigentes políticos olham as tropas como um mal necessário. Em voz baixa os militares percebem os políticos como o que são quase todos: corruptos e ineptos. A guerrilha narco-terrorista se auto-denomina defensora dos pobres e todos os dias os massacra. Os caciques políticos e donos dos “meios de produção” criam seus próprios bandos criminosos mal chamados de para-militares. Os altos dirigentes políticos acreditam que a Colômbia é uma fazenda para manejar suas vaidades e interesses particulares. Os acadêmicos não aprofundam e se agarram à teoria comunista de que a guerrilha nasce e se sustenta pelo conflito das terras. E o sacrificado povo colombiano continua sem norte, sem objetivos nacionais e sem projeção geo-política no entorno.
Tudo isso e muito mais, é o miolo do problema que começará a mudar quando os militares colombianos se prepararem profissional e integralmente de maneira conjunta, com visão estratégica e senso patriótico, para que quando crescidos não sejam brinquedos vulgares das paixões, nem escravos servir dos tiranos.
Quer dizer, quando sem sair de sua esfera constitucional e sua responsabilidade profissional tenhamos generais, almirantes e coronéis com sólida formação profissional, capazes de se reunir com o presidente de turno, não para ouvir veleidosas e falsas louvações, senão para lhe dizer o norte do país é tal, o senhor foi eleito para governar não para manipular suas tropas, conte com nosso apoio para esta missão constitucional, não para ser Prêmio Nobel da Paz, não para vingar a morte de seus familiares, não para prestar-lhes honras e calar sua responsabilidade em situações vergonhosas como o Palácio da Justiça ou a fuga de Pablo Escobar da Catedral, e muito menos para coonestar que caciques políticos e donos do poder econômico formem seus próprios bandos de criminosos mal chamados de para-militares.
Nesse dia, sem dúvida a Colômbia será outra, porque haverá militares que fazem respeitar a Constituição e as leis como pediu Simón Bolívar em seu último Proclama, e de passagem os comunistas entenderão que não é organizando nem legitimando quadrilhas de terroristas, nem com propaganda suja, nem com bancas de advogados tortos, nem com mentiras obscuras que a Colômbia sai do congestionamento em que a meteram igualmente liberais, conservadores e comunistas, que de um tempo para cá têm sido peças do narco-tráfico por ação ou por omissão.
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido*
Analista de assuntos estratégicos -